terça-feira, 15 de setembro de 2009

JAT em entrevista na N*STYLE

Nome incontornável da moda portuguesa e com sólidas mostras do seu trabalho no circuito internacional, José António Tenente soube expandir a sua marca a uma infinita e louvável gama de produtos, traduzindo continuamente, a sua essência e valores. Desde a sua primeira e 'longínqua' colecção para o Outono/Inverno 86/87 e até hoje, a JAT não parou de crescer, inovar, diversificar e surpreender, conquistando uma cada vez maior proximidade com o seu público. Envolvido em projectos e colaborações sucessivas, José António Tenente traz-nos agora 'Amor Perfeito', perfume que marca a estreia do criador no mundo da perfumaria, disponível a partir de Outubro. Naturalmente muito mais está para vir... porque de desafios vive a moda, e a JAT é o melhor exemplo disso.

O José António Tenente conta já com 2 Globos de Ouro. Como foi receber este ano o Globo para “Melhor Estilista Português”? O que significou para si?
Vermos o nosso trabalho reconhecido é sempre muito positivo. Foi particularmente gratificante por ser referente ao ano 2008, no qual desenvolvemos colecções que representam muito a identidade da marca. Mas confesso que o melhor, foram as muitas manifestações de apreço e carinho que me endereçaram.

Qual considera ser o ADN da marca José António Tenente?
O desenho, o detalhe, o estilo sóbrio que oscila entre o depurado, o gráfico, o decorativo e às vezes até teatral.

Conte-nos um pouco sobre o seu próximo lançamento – o perfume “Amor Perfeito”. Como surgiu a ideia de criar um perfume?
Esta ideia sempre me atraiu e há muito que pensava nela, mas de facto é preciso ter parceiros que se ocupem de todo o processo de comercialização e distribuição. Nesse sentido, este projecto surgiu na sequência do desafio lançado pelo Luís Pereira da 100ML, uma empresa distribuidora na área da perfumaria, para criarmos um perfume JAT.

Como foi a experiência?
Foi uma experiência muito interessante e enriquecedora. Para criar o conceito, comecei a esquematizar e racionalizar os adjectivos que normalmente oiço ou leio sobre o meu trabalho. Sóbrio, elegante, depurado, sofisticado e romântico. Este último, colou-se de facto, ao meu trabalho dum modo muito forte. Assim, o romantismo passou a orientar todo o processo. No entanto, não queria nada frágil, nem ‘cor-de-rosa’. Daí o frasco e embalagem terem uma imagem moderna e ‘clean’. Quanto à criação do próprio aroma foi muito positiva e inter-activa a relação que estabeleci com as perfumistas, a quem passei as ideias do tipo de aroma que gostaria.

O que é que podemos esperar destes dois perfumes em termos de aromas?
Desde as primeiras reuniões que tivemos, decidimos que seria interessante desenvolver o projecto para senhora e homem e lançá-los em simultâneo. Não como um conceito ‘unissexo’, mas sim dois perfumes que se completam e que têm vários pontos comuns na sua origem. O aroma de senhora é mais ‘doce’ e quente, com os frutos vermelhos e o chocolate a conferirem-lhe um carácter ‘gourmand’. O de homem abre com notas cítricas e evolui para um aroma mais especiado e amadeirado.

Considera importante esta ”extensão do universo das marcas” a produtos mais acessíveis e mais próximos do público?
Estes produtos permitem de facto uma maior distribuição junto do público e chegar a um maior número de consumidores que de outro modo não teriam acesso à marca, não só pelo preço, como pela sua comercialização mais exclusiva. E os resultados mostram que o público está receptivo.

Além do perfume, tem alguma colaboração ou projecto futuro que nos possa revelar?
Estamos a desenvolver uma linha de jóias em parceria com a Goldreams, que está actualmente em fase de início de comercialização.

De onde veio a inspiração para a colecção Outono/Inverno 09/10?
A colecção para o Inverno 09/10 é inspirada na obra de Paula Rego. Elegendo alguns trabalhos como referência, em particular os figurativos e com fortes elementos decorativos, produzidos a partir de meados dos anos 90, a colecção foi criada e desenvolvida também por ‘quadros’.
É uma colecção inevitavelmente dominada pela figura da mulher e pelo universo feminino.
Sob o poder da elegância ‘retro’, a silhueta feminina oscila entre exuberante e longilínea, sempre com a cintura vincada e ancas evidentes. Folhos e volumes definem as formas. Tecidos ‘pictóricos’, brocados e adamascados, com grandes motivos florais contrastam com micro padrões masculinos. As cores saem da paleta da pintura: ocre, lima, roxo, púrpura, fucsia, petróleo, azul noite e preto.
Os acessórios reforçam o lado mais teatral da imagem: chapéus, aplicações de cabeça, redes, luvas e sapatos luminosos e coloridos. Para homem a imagem é muito sóbria, com o rigor da formalidade ou da contenção militar.

Dois dos looks favoritos do criador para a colecção Outono/Inverno 09/10


O “melhor” da sua profissão?
A criação. Para mim o melhor é mesmo o trabalho mais solitário do desenho. Eu e o meu ‘caderno’.

E o “pior”?
Os prazos. Andamos sempre a correr contra o tempo

Quais as “qualidades” que considera essenciais para triunfar no mundo da moda?
Rigor, profissionalismo, determinação, são fundamentais para acompanharem a criatividade. Definir bem o projecto que se quer desenvolver e especialmente o que não se quer fazer, é fundamental para conseguir implantar uma marca.

Como vê Portugal (e o trabalho dos nossos criadores) no panorama da moda internacional?
Infelizmente, de um modo geral, a visibilidade e implantação internacional não é proporcional ao crescimento e à evolução da moda nacional enquanto projecto criativo. O mercado é extraordinariamente concorrencial e a capacidade de investimento em marketing relativamente às marcas internacionais é muito diferente. Dificilmente conseguimos competir com a escala global. O nosso mercado interno é muito pequeno e por essa razão a oportunidade pode estar na exploração de mercados alternativos e não saturados como estão os ‘tradicionais’ centros de moda.

E quanto a ajudas e apoios, o que acha que poder ser melhorado?
A moda deve ser encarada como potenciadora de criatividade e de expressão artística e por isso pode e deve ser dinamizada e até apoiada enquanto tal. Mesmo a nível do negócio poderiam ter sido criadas várias estruturas que acompanhassem o que foi feito ao nível da imagem ao longo destes anos em que se tenta implementar a moda de autor no estrangeiro. De um modo geral as acções não são sustentadas e desperdiça-se muito dinheiro sem ter capacidade para continuar o investimento. O que tem que ser melhorado de uma vez por todas é o plano, a estratégia. Não vale a pena fazer, só por fazer.

Depois de mais de 20 anos de carreira no mundo da moda, qual o balanço que faz de toda esta trajectória?
É bastante positivo… a um nível mais pessoal porque de facto olhando para trás e pensando no tímido que era, não imaginaria fazer o que faço hoje. E também profissionalmente, especialmente se tivermos em conta o cenário praticamente inexistente de moda de autor em Portugal quando comecei, e o que isso implicou e às vezes ainda implica, em toda a trajectória.

Entrevista publicada na revista N*Style, nº34, Setembro/Outubro '09
Fotografia da capa . Mário Príncipe

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